João Barros, lateral esquerdo de 2003 iniciou o seu percurso na Associação Desportiva da Freguesia de Anta e passou também pelo Sport Lisboa e Benfica e Futebol Clube do Porto. Representa atualmente a equipa Sub 23 do Boavista Futebol Clube ainda com idade de Sub 18. Desde o início desta aventura por pura diversão, até a chegada a um patamar no qual à uns meses não pensaria estar sequer inserido, conheça melhor um dos bons valores da formação das panteras negras.
1 - Começaste muito novo à praticar futebol na Associação Desportiva da Freguesia de Anta, onde jogaste durante seis temporadas. Como surgiu esta paixão pelo futebol?
JB: Como disse comecei a dar os meus primeiros passos pelo mundo do futebol na ADF Anta, com 6 anos de idade. Acho que na altura, como qualquer miúdo da minha idade, levava o desporto como um divertimento. O meu irmão influenciou-me um pouco, já que na altura também jogava futebol.
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João Barros iniciou o seu percurso futebolístico no ADF de Anta. |
2 - Tiveste uma oportunidade única de representar na tua formação dois dos maiores e melhores clubes a nível nacional e internacional, o Sport Lisboa e Benfica e o Futebol Clube do Porto. Como foi viver essa experiência?
JB: Foi sem dúvida um orgulho enorme ter tido a oportunidade de representar dois clubes tão grandiosos. Ingressei no Sport Lisboa e Benfica com 13 anos, na minha primeira experiência a viver fora de casa, longe da minha zona de conforto. Foram dois anos difíceis, numa realidade onde uma mentalidade forte é essencial para o sucesso e cresci muito dentro desse contexto. Depois, com 16 anos, surgiu o Futebol Clube do Porto, regressei ao Norte, em mais uma experiência muito positiva. São clubes onde temos de ter a consciência que vencer é um pilar essencial. Foi sem dúvida um prazer enorme trabalhar com jogadores e equipas técnicas de tanta qualidade, pessoas muitas das quais levo para toda a vida.
3 - É justo dizer que as condições de trabalho nesses grandes clubes são em todos os aspectos diferenciadas daquelas que existem nos clubes de menor dimensão? Para alguém como tu, que esteve em ambos os lados é fácil reforçar essa opinião ou tens uma opinião distinta desta?
JB: Acho que nos dias de hoje, cada vez mais vemos clubes com essa suposta menor dimensão a igualar o trabalho dos clubes de maior dimensão. São já bastantes os clubes que possuem diversos e desenvolvidos departamentos, como por exemplo de análise elaborada, nutrição, fisiologia entre muitos outros. Felizmente para o nosso futebol cada vez é dada mais importância à formação e às próximas gerações de atletas que irão beneficiar e muito disso. Muitas vezes o fator económico é o único entrave de se melhorar ainda mais as condições de trabalho e consequentemente dos atletas, mas acredito que os clubes e as entidades responsáveis pelas respetivas áreas caminham a passos largos para um ainda maior desenvolvimento e progresso na luta contra essa escassez de recursos.
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João Barros, ao serviço do Sport Lisboa e Benfica. |
4 - Ao longo destas tuas passagens pelo Sport Lisboa e Benfica e pelo Futebol Clube Porto certamente foste colega e partilhas-te balneário com atletas muito talentosos e com enorme potencial. Há algum ou até mais que te tenha marcado fortemente pelo seu talento e que acredites que possa atingir patamares elevados e de excelência no mundo do futebol?
JB: Ui são tantos (risos). Neste tipo de clubes como é óbvio a competitividade é enorme, já que grande parte dos melhores jogadores do país estão lá integrados. Têm todos muita qualidade e fica muito difícil de destacar. Não há "jogadores fracos" e cada um com as suas capacidades e diferenças fazem-me acreditar que possuem potencial para chegar pelo menos grande parte deles ao futebol profissional com maior ou menor dificuldade.
5 - Assim como atletas também trabalhas-te com vários treinadores e diferentes equipas técnicas. Houve alguém em especial que acreditas que tenho tido um papel determinante ou uma importância acrescida na tua evolução como jogador?
JB: Gosto de acreditar que cada treinador deixa uma aprendizagem nos jogadores, de formas diferentes. Por vezes pode ser até importante passar pela mão de treinadores que não apostem em nós tão regularmente, pois vamos crescer mentalmente e aprender a lidar com este tipo de situações no futuro. Todos os treinadores e equipas técnicas com as quais tive o prazer de trabalhar me ensinaram algo, mas posso dar destaque ao mister Pedro Costa, nos tempos da ADF Anta, já que foi o treinador com quem trabalhei no ano em que assinei pelo Sport Lisboa e Benfica e foi um treinador que me ajudou e marcou imenso.
6 - Faz agora pouco mais de um ano em que toda a atividade desportiva em Portugal foi suspensa por causa da pandemia do novo Corona Vírus que assolou todo o mundo. Como foi para ti, lidar com essa paragem repentina que te afastou dos relvados durante um bom período de tempo?
JB: Como é óbvio é muito difícil quando nos tiram algo que adoramos fazer e fazemos diariamente. Ao início foi um choque para toda a gente, mas rapidamente mudamos o "Chip" e percebemos que a única coisa que estava ao nosso alcance naquele momento era continuar a trabalhar em casa e manter uma rotina e treinos intensa, para que o impacto na volta ao campo não fosse tão forte. Mas tenho consciência que muitos atletas da formação não conseguiram lidar com está situação tão facilmente.
7 - Viveste de perto o quão difícil e doloroso consegue ser estar afastado dos relvados e da competição durante meses. Acreditas que o futebol de formação possa ainda ter consequências maiores e mais graves que aquelas que tem vindo a somar ao longo deste período de tempo que tem estado suspenso?
JB: Infelizmente acredito que sim, mas num médio ou longo prazo. Muitos jovens e não só no futebol, mas também em outras modalidades, deixaram os seus desportos por falta de motivação e competição nos mesmos e isso pode comprometer no futuro uma geração de atletas, mas isso é algo que infelizmente ninguém consegue controlar.
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João Barros representou o FC Porto por duas temporadas. |
8 - Depois de encerrado o teu capítulo no FC Porto, surge a oportunidade de representares o Boavista FC. Como surgiu essa possibilidade e o porquê da escolha recair na formação das panteras negras?
JB: No final da época passada o Boavista FC sempre foi o clube que demonstrou mais vontade de contar comigo e acho que era algo como isso que eu precisava muito naquele momento. Foi aquela confiança e carinho demonstrados que me fizeram ter muita vontade de ingressar no clube, para além de ter uma cultura de luta e ambição com a qual me identifico bastante.
9 - Apesar de ainda possuíres idade de Sub 18, estás inserido num nível de competitividade mais exigente, como é o da Liga Revelação de Sub 23, onde defrontas atletas mais velhos e um pouco mais experientes. Quais as principais diferenças que encontras neste contexto em relação aqueles aos quais estavas habituado nos escalões inferiores de formação?
JB: Acho que a palavra que mais se adequa para aqui é experiência. É algo que tenho notado muito este ano, sendo um Sub 18 a jogar com malta de 21 e 22 anos. O fator físico também é algo em que notei uma enorme diferença, mas sinto que está a ser um ano onde tenho aprendido muito e que me está a dar muitas bases para o futuro.
10 - Acreditas que a Liga Revelação tem um papel ainda mais importante no futebol de formação em Portugal uma vez que possibilita que alguns jovens continuem a ter competição numa fase em que os campeonatos de formação estão suspensos e sem um retorto tão próximo ainda agendado?
JB: Sem dúvida que sim. Sinto-me muito afortunado em estar inserido numa competição tão competitiva, em um ano onde infelizmente muitos jogadores da minha idade viram os seus campeonatos cancelados. Para além disso é a competição perfeita para preparar os jovens que estão na fase final da sua formação e que não teriam oportunidade de competir caso não existisse a Liga Revelação.
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Ainda júnior, João Barros é opção regular dos Sub 23 do Boavista FC. |
12 - Quais os objetivos pessoais e coletivos traçados para esta temporada?
JB: Pessoalmente tenho sempre como objetivo ter o máximo de minutos possíveis e aprender sempre mais de dia para dia, ainda para mais num contexto competitivo diferente. Coletivamente somos uma equipa de primeiro ano de liga revelação, muitos jogadores que estão pela primeira vez a jogar juntos, mas trabalhamos semanalmente sempre com a ambição de trazer os três pontos, seja contra quem for. Num clube como o Boavista não podia ser diferente. A exigência é sempre máxima.
13 - Qual a análise que fazes até ao momento, da tua época individual e coletiva da tua equipa?
JB: Comecei a época nos Sub 19 e só em Janeiro integrei os trabalhos da equipa Sub 23. Sempre fui muito trabalhador e ambicioso mas nunca pensei que fosse ter as oportunidades e minutos que tenho tido este ano, pelo que só por aí está a ser uma grande vitória para mim. Só me resta continuar a dar o máximo para justificar ainda mais tempo de jogo. Somos uma equipa que tem vindo a crescer bastante e que nos estamos a tornar uma verdadeira família e por vezes é esta união que ganha jogos e títulos.
14 - Vives-te certamente momentos únicos e inesquecíveis ao longo desta tua ainda curta carreira. Tens algum que queiras recordar?
JB: Infelizmente na minha formação e apesar das minhas passagens por grandes clubes, não consegui conquistar muitos títulos colectivos. Coletivamente falando posso dar destaque para o Campeonato Distrital de Lisboa que venci pelos Sub 14 do Sport Lisboa e Benfica no primeiro ano no clube. A nível individual tenho que falar da minha estreia na Liga Revelação com uma vitória, no dia em que completei 18 anos de idade. Foi sem sombra de dúvida a recompensa de um culminar de muito trabalho e dedicação e uma grande prenda de anos.
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Equipa de Sub 23 do Boavista FC, que disputa a Liga Revelação. |
15 - Um ídolo?
JB: Apesar de não ser Defesa Central, lembro-me de sempre ter tido uma grande admiração pelo Carlos Puyol. Não só pelas suas capacidades futebolísticas, que eram muitas, mas mais até pela sua liderança e grande vontade dentro do campo.
16 - Clube e Liga de sonho?
JB: Tenho de falar do Barcelona. Cresci a ver o famoso "Tiki Taka" de Guardiola com Messi, Xavi, Iniesta, Puyol, entre outros grandes atletas e desde então foi o meu clube de sonho. No entanto acho que qualquer jovem da minha idade tem também a ambição de jogar na Premier League em Inglaterra, a liga mais competitiva do mundo atualmente.
17 - Como ocupas os teus tempos livres?
JB: Nos tempos livres gosto muito de passar o meu tempo à volta de séries e filmes. Sou capaz de passar uma tarde inteira na Netflix se o conteúdo me agradar. Além disto adoro ver futebol na televisão, principalmente se o jogo for interessante.